Toury, Gideon 2001. "A Tradução como Meio de Planificação e a Planificação da Tradução".
in Histórias Literárias Comparadas: Colóquio Internacional. Lisboa: Colibri, pp. 17-32.
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A Tradução como Meio de Planificação
e a Planificação da Tradução

Gideon Toury
Universidade de Telavive

1.

A última década tem sido marcada pela emergência de preocupações
culturais em todas as ciências do Homem. Este facto tem provocado mu-
danças substanciais na forma como os fenómenos do mundo da nossa experiência
são abordados, sendo os estudantes de tradução os primeiros a aplaudi-las - e a
adoptá-las. Ao mesmo tempo, tal não significa que todos os aspectos possíveis da
cultura tenham já sido postos em curso no estudo da tradução. Um conceito
central em flagrante falta é o de planificação.

A planificação constituiu sempre uma força significativa em termos de cul-
tura e respectiva dinâmica. Por outro lado, tem-se mantido na periferia quando se
trata de abordagens académicas à cultura em geral e, consequentemente, a secto-
res individuais, em particular. Uma excepção notável é o estudo da língua, onde o
conceito de planificação tem vindo a ganhar alguma aceitação desde os anos 70.
Porém e infelizmente, em vez de se transformar em bastante mais do que apenas
Planificação da Língua, o que poderia ter feito sem dificuldade, o subsequente
campo de estudo reduziu-se a bastante menos do que isso: a investigação depressa
se limitou de novo à codificação, isto é, à mera planificação do corpus, à negligên-
cia da planificação do status (ou da chamada política da língua) e planificação pela
simples planificação. (Para esta noção e respectivas interdependências veja-se, por
exemplo, Karam, 1974:112 ss; Cooper, 1989: Capítulos 5 7).

É minha convicção que em breve testemunharemos um renovado interesse
pela planificação num quadro mais vasto de referência. Quando tal acontecer, não
haverá forma de os Estudos de Tradução continuarem de fora: pensar em termos
de planificação afecta necessariamente o próprio modo como se irá lidar com os
actos de tradução e os seus produtos e o tipo de descrições e explicaçöes que serão
consideradas admissíveis, talvez até preferíveis.
Vendo a questão por outro lado, as


Lisboa, Ed. Colibri/ Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira, U.C.P., 2001, pp. 17-32.


18 Histórias Literárias Comparadas

concepções de tradução culturalmente orientadas não deixariam por certo de
servir de exemplo para todo processo. Afinal, não se pode contestar que, sendo,
pela sua própria natureza, uma actividade governada pela norma, a tradução
tanto é um meio de provocar a planificação como, consequentemente, um caso
paradigmático dela. Mais do que estar envolvida na planificação de outros domí-
nios apenas, depende também da planificação em e para si própria: partindo da
própria decisão de traduzir, que nunca é uma decisão automática, insignificante,
e abrindo caminho até ao estabelecimento de substituições individuais, ao nível
profundo, quer sejam retiradas de entre as opções existentes na língua-alvo ou
criadas de novo, e daí o estabelecimento daquelas que seriam consideradas as rela-
ções apropriadas entre uma substituição na língua-alvo e a sua contrapartida no
texto-fonte correspondente.

O que não é, de todo, o caso agora. Pelo contrário, na discussão académica
contemporânea acerca da planificação - na medida em que ela efectivamente se
verifica - concede-se muito pouco espaço à tradução. Basta folhear periódicos
como o Language Problems and Language Planning para se tomar consciência da
quase total não-existência da tradução enquanto tópico, ou os muitos periódicos
académicos de Estudos de Tradução para ver que o conceito sócio-cultural de pla-
nificação raramente se encontra presente (ao contrário da planificação cognitiva
que, presume-se, ocorre na mente dos que estão envolvidos na tradução, o que se
transformou numa questão-chave, numa noção-chave em estudos psicolinguísti-
cos do processo).

É certo que, quando se trata de casos individuais, não há praticamente rela-
tos de planificação da língua ou da cultura sem que se refira o recurso à tradução,
pelo menos como forma de acumular textos de um modo relativamente pouco
dispendioso. Refere-se também uma vez por outra o papel que as traduções indi-
viduais, ou as traduções de textos particulares desempenham, de facto, na evolu-
ção de culturas particulares. Por fim, também recomendações dirigidas aos plani-
ficadores, em comunidades individuais e tendo em conta as línguas individuais,
fazem muitas vezes referência ao uso da tradução. No entanto, é aqui precisamente
que a tradução fica de fora: uma simples alusão, uma recomendação no sentido de
"se considerar a possibilidade"-ou, quando muito, uma demonstração de poten-
cialidades. Tanto quanto sei, nunca se olhou, de forma sistemática, para a tradu-
ção como actividade de planificação que ela pode ser e tem muitas vezes sido.

O objectivo da presente comunicação é bastante modesto. A minha inten-
ção é tentar preparar caminho para uma área de intersecção entre os interesses
dos Estudos de Tradução e o tratamento académico da Planificação da Cultura.


Gideon Toury 19

em si será delineado em termos bastante vastos, partindo do conceito de planifi-
cação para o de tradução (Secção 2) e novamente em sentido contrário (Secção 3).
Depois, será apresentado, com algum pormenor, um caso exemplar. A história
será narrada de tal forma que irá constituir uma demonstração dos efeitos de
tantos factores apresentados no desenvolvimento teórico quanto possível. A
própria narração será de novo cortada em duas: a primeira parte (Secção 4) apre-
sentará um esboço da posição da tradução na planificação em geral de um novo
paradigma cultural, enquanto que a outra (Secção 5) irá tratar da planificação da
própria tradução enquanto portadora de mudança, em tais circunstâncias. A
Secção 6, que poderá parecer um apêndice desnecessário, é apresentada como
matéria de reflexão a quem tiver conseguido ultrapassar todos os obstáculos e
chegado ao fim da argumentação.

2.

 

O prisma pelo qual aqui encaramos a CULTURA tem que ver com o facto
de ela ser um reportório estruturado de opçöes que ocganiza a interacção social e
confere a cada passo o significado que tem no e para o grupo que mantém essa
cultura. A noção de REPORTÓRIO é mais proveitosamente entendida como a
soma total de formas (limitadas) segundo as quais os indivíduos numa dada cul-
tura fazem uso de opções pré-organizadas (isto é, modelos), dado o seu campo
cultural particular e as suas posições no seu seio [(Sheffy,1997; Even-Zohar,1997a,
b, c)]. A palavra "OPÇÕES" implica que, em qualquer situação, têm de ser feitas
ESCOLHAS, que são, no entanto, fortemente constrangidas. Em consequência, o
facto de se ser membro de uma entidade colectiva e participar na sua cultura im-
plica não só a aquisição do reportório enquanto tal, mas também conhecimento
da relativa APROPRIABILIDADE de quaisquer que sejam as opções nele incluídas
em diversas circunstâncias.

Se é isto que se entende por cultura e comportamento cultural, então a
PLANIFICAÇÃO consistiria em qualquer acto (mais ou menos deliberado) de inter-
venção em determinado estado de coisas no seio de um grupo social, ou seja, em
tomar decisões para que outros as sigam, quer o ímpeto para intervir tenha origem
dentro do próprio grupo, quer tenha vindo de fora.

Em culturas recentemente estabelecidas, a planificação pode ser equipara-
da à transformação de listas "neutras" de modos de comportamento alternativos
(isto é, meros inventários), em sistemas estruturados de opções codificadas, que é
no que consistem os reportórios. Em culturas institucionalizadas, onde, por
definição, os reportórios já existem, pois de outra forma não teriam sido conside-
radas institucionalizadas, em primeiro lugar, talvez nem sequer culturas, a plani-


20 Histórias Literárias Comparadas

ficação cifrar-se-ia basicamente na tentativa de introduzir novas opções, e/ou em
livrar-se das antigas, e, agindo desse modo, proceder a MUDANÇAS num con-
junto ainda existente. Implicaria ainda formas de tornar o reportório sujeito a
intervenção acessível à cultura em geral, de modo a poder ser efectivamente usado.
As tentativas no sentido de evitar as mudanças que os outros possam estar a tentar
introduzir também se enquadram na planificação, quer tenham êxito ou não. De
uma forma ou de outra, o subsequente CONFRONTO entre as várias opções ter-
-se-á tornado um facto da cultura em questão, provocando, assim, alguma mu-
dança (relativamente ao tempo em que ainda não havia qualquer confronto, ou
quaisquer opções alternativas).

Em cada grupo social, são em número restrito os que actuam como produ-
tores ao nível do reportório em si. Quer indigitados pelo grupo com a tarefa de
assim procederem, quer autodesignados, é sobretudo esta minoria que introduz
novas opções, e daí actuarem como AGENTES DE MUDANÇA. Todos os outros
acabam por ser meros consumidores do reportório: são produtores ao nível dos
textos apenas. Assim, mesmo que o seu comportamento pareça único (e cada
exemplo de comportamento contém, de facto, uma certa unicidade), ao nível do
reportório, ele é basicamente uma concretização das opções existentes, o que, por
conseguinte, PERPETUA o reportório existente e estabiliza a cultura por ele
definida.

Na medida em que deseja ser bem sucedida e causar alguma mudança de
comportamento entre a "maioria silenciosa", a planificação carece de uma base de
poder. De facto, é muitas vezes executada pela simples vontade de atingir tal poder,
mais do que por uma genuína tentativa de introduzir mudanças alegadamente
"desejáveis'. Por conseguinte, a planificação está muitas vezes intimamente associa-
da a confrontos com vista à dominação, da mesma forma que qualquer tentativa
de a evitar, interromper ou alterar o seu curso. São TÉCNICAS DISSIMULADAS
que muitas vezes evitam que se perca tal confronto, sobretudo quando o poder
ainda não foi ganho (vide a notável hipótese de Shavit 1989 no que respeita à
entrada de um novo modelo num sistema cultural): o risco parece menor quando
se afirma que há, de facto, muito pouco de novo naquilo que se preconiza e, sobre-
tudo, quando tal afi:mação pode ser comprovada pela evidência (necessariamente
selectiva, muitas vezes tanto quanto distorcida). Em contrapartida, quando a pla-
nificação inicial mostrou ter obtido êxito e se alcanfou algum poder, a planificação
posterior parece tornar-se muito mais suave. Pode também ficar mais livre de consi-
derações que não sejam as de estabelecer uma meta em si e as formas de a alcançar.
A planificação também não precisa de ser feita numa acção abrangente,
aplicada a todos os sectores culturais e a todas as questões ao mesmo tempo.
Pode


Gideon Toury 21

muito bem ser executada em ACTIVIDADES DE PEQUENA ESCALA, levadas a
cabo em sectores particulares e/ou respeitantes a questões mais ou menos definidas.
O processo mais completo que se pode imaginar implicaria, decerto, a invenção de
uma cultura, ou sector cultural, que não existisse antes. Enquanto teoricamente
possível, isto só é, de um modo geral, interessante como exercício mental. Assim,
mesmo as chamadas "línguas inventadas" não são de facto inovações absolutas.
Mais, as línguas inventadas que conseguem alcançar um dose de êxito tiveram de
se basear fortemente em reportórios existentes (embora existentes noutro lugar,
claro), mesmo que se usem falsos argumentos numa tentativa de enganar os con-
sumidores. Desta forma, também é mais fácil estabelecer um grupo que adopte o
sistema "inventado" como a sua língua. (Compare-se o caso do Esperanto com
quase todas as outras línguas "artificiais" ao longo da história!)

Nem a planificação precisa de ser absolutamente linear: primeiro, estabele-
cer objectivos, depois conceber métodos para os alcançar e, por fim, aplicar esses
métodos em prática efectiva. De facto, na medida em que os planificadores desejam
alcançar mais do que um êxito momentâneo e manter-se no poder, a sua actividade
será provavelmente EM ESPIRAL, implicando constantes reavaliações; não só da
implementafão, mas dos próprios métodos, das próprias metas até. Assim, o êxito
na planificação da cultura é muitas vezes um resultado com alguma flexibilidade,
enquanto que a rigidez pode bem conduzir ao fracasso.

Finalmente, não é de todo necessário que cada passo da planificação seja
dado com PLENA CONSCIÊNCIA, muito menos que deixe traços visíveis sob a
forma de registos tangíveis. Claro que a existência de documentos escritos, sobre-
tudo se reflectirem as decisões tomadas num contexto (mais ou menos) oficial,
torna a utilização do termo "planificaçãó' menos controversa: dessa forma, a pró-
pria intervenção tornar-se-á transparente, mesmo que, na verdade, não seja assim
tão drástica. Deste modo, sou todo a favor de alguma tolerância na aplicação do
conceito de "planificação" no âmbito dos Estudos de Tradução. Acredito que é
relevante desde que seja útil a ajudar-nos a compreender (e daí a explicar) proces-
sos culturais e respectivos produtos. Os graus de consciência tornar-se-iam, assim,
parte do relato de casos individuais de planificação, mais do que servirem como
pré-condição para o facto de terem sido concebidos com tal em primeiro lugar.
Dado que qualquer intervenção num reportório cultural é encarada como
um acto possível de planificação, a tradução emerge como uma candidata par
excellence para (re)visão nestes termos. O mais importante de tudo, as actividades
de tradução não só podem causar, como causam muitas vezes, mudanças notáveis
em determinados estados de questões culturais e até nos próprios reportórios.
Também muitas destas mundanças são claramente não-involuntárias. No fim de


22 Histórias Literárias Comparadas

contas, o acto de tradução é intencional na sua própria natureza, uma actividade
teleológica em que o êxito (ou o fracasso) são noções-chave; êxito e fracasso em
termos de requisitos da cultura receptora, ou seja, precisamente onde se pode dizer
que a planificação se deu de facto. Estamos, por isso, a fazer agora uma inversão
do sentido da argumentação e a começar tudo do princípio com o conceito de
TRADUÇÃO.

3.

 

As culturas recorrem à tradução como uma forma possível de preencherem
as suas lacunas. A qualquer nível. Uma falha num sector cultural pode, claro, ser
mais ou menos visível para os indivíduos-dentro-da cultura, e o recurso à tradução
não constitui a única maneira de preencher uma falha que tenha sido detectada:
uma lacuna pode também ser preenchida com uma entidade estranha, não tradu-
zida, sobretudo num grupo social multilingue. Também se pode produzir uma
entidade não-translacional, nomeadamente dentro das possibilidades da própria
cultura e, por último, pode deixar-se assim uma lacuna, pelo menos até ver. A
decisão de recorrer à tradução também não é verdadeiramente individual. Pelo con-
trário, é sempre GOVERNADA POR NORMAS, concebidas para satisfazer certas
necessidades da cultura receptora e dos seus membros. O mesmo se aplica à forma
como esta decisão é concretizada, e daí a constituição de produtos finais, junta-
mente com as relações que as ligam aos seus equivalentes na cultura e língua-fonte.

No mais simples dos casos, tanto a ausência como o preenchimento parecem
consistir em meras entidades textuais, sendo, evidentemente, cada uma delas úni-
ca: pode estar mais ou menos em sintonia com as normas e modelos dominantes,
mas é em si uma novidade. Ora, o desejo de introduzir um texto numa cultura por
via da tradução, incluindo a possível resolução de voltar a traduzir (em vez de reim-
primir uma tradução existente, submetê-la a revisão, ou simplesmente esquecê-la
por completo), implica sempre uma série de decisões (interligadas); e, dado que
provoca sempre alguma MUDANÇA na cultura receptora, aquelas podem justifi-
cadamente servir para representar actividades de planificação. Tanto mais se e
quando se prestar uma atenção especial às possíveis implicações da introdução do
texto em questão na cultura receptora e à forma como vai ser introduzido, influen-
ciando deste modo a própria tomada de decisão.

Em casos mais complexos, não só se podem introduzir textos individuais
numa cultura, como também modelos desconhecidos até à data, isto é, opções
pré-organizadas que podem ser utilizadas como instruções para ilimitadas produ-
ções futuras; sejam eles relativas a tipos de texto, ou modelos para representação


Gideon Toury 23

da realidade ou para ligar episódios numa história, ou até modos de utilização da
língua. Claro que isto é um sentido muito mais radical, ao nível do reportório, de
"colocar novas opções à disposição de uma cultura", o que normalmente é provo-
cado por conjuntos de textos, mais do que por exemplos isolados de desempenho
linguístico; tanto um número de textos que corporiza um padrão existente trans-
portado de uma cultura-fonte particular ou textos que tenham sofrido tratamento
semelhante dentro da própria cultura receptora, independentemente das caracte-
rísticas que os seus equivalentes possam ter tido na(s) cultura(s) contribuinte(s)
(ou, claro, alguma combinação dos dois casos).

Claro que mudanças na cultura receptora, para além da simples presença
de um texto que não tenha estado presente antes, não representam necessaria-
mente um incidente de produção. Pelo contrário, a mudança é, na própria natureza
da tradução, um modo de comportamento cultural que os planificadores têm de ter
sempre em mente. Assim, enquanto os acontecimentos de tradução são (pelo
menos semioticamente falando) iniciados pela prospectiva cultura-alvo, desti-
nando-se a satisfazer as suas necessidades, são muitás vezes concebidos para fazer
um desvio de padrões sancionados a um ou outro nível. Pode associar-se uma certa
parte destes desvios à necessidade sentida de manter invariáveis certas caracterís-
ticas do texto-fonte imediato, o que faz sempre parte do conceito de tradução, mas
pode bem haver outras razões para esse desvio dos padrões sancionados.

Sejam quais forem as razões para o desvio dos padrões convencionalizados
da cultura-alvo, o resultado óbvio é que não é invulgar que uma tradução seja bas-
tante distinta das entidades não-translacionais e até publicite a sua alteridade,
incluindo os próprios desvios (ou potenciais novidades). Além do mais, em muitas
culturas, a tolerância de anomalias tem sido maior em actos e produtos assumida-
mente translacionais do que em comportamentos não-translacionais. O que con-
fere uma espécie de legitimização inicial à introdução de novidades por via da
tradução. De facto, muitas vezes, uma quantidade de desvios da normalidade-alvo
em "traduções fictícias" (Toury, 1995:31-35; 1995a) é considerado não só aceitável,
ou até just~cável, mas efectivamente preferível à conformidade aos modelos
pertencentes ao reportório doméstico. O que decerto dá uma abertura enorme às
mudanças, incluindo ao nível do reportório.

O facto de os desvios dos padrões sancionados ocorrer e poder ser notado
pelos indivíduos-dentro-da-cultura, que até podem apreciá-los, dá origem a uma
possibilidade inerente de manipular tais reacções; por exemplo, produzindo desvios
à vontade. Tal aproximaria ainda mais as actividades translacionais do conceito de
planificação. Um exemplo gritante de manipulação são as chamadas traduções fic-
tícias; textos originais que utilizam características, associadas (dentro da cultura


24 Histórias Literárias Comparadas

em questão) à tradução e apresentadas - e muitas vezes aceites e daí consumidas
- como produtos de genuínos actos de tradução induzidos pelo texto (Toury,1995:
Excurso A). Na verdade, é difícil encontrar um caso em que a decisão de pseudo-
-traduzir, e a forma como isso é feito, não possa ser referida em termos de uma
tentativa mais ou menos deliberada de introduzir novas opções numa cultura
enquanto se neutralizam muitas das objecções que poderiam surgir se essas mesmas
novidades fossem oferecidas de uma forma directa, não dissimulada. Em muitos
casos, as tentativas de disfarçar as novidades como importações translacionais
também mostraram ter enorme êxito.

Vamos agora para a nossa história e seguir as manifestações das noções
apresentadas nas duas secções anteriores num verdadeiro exemplo de comporta-
mento sócio-cultural. A história irá abranger os primórdios do Iluminismo
hebraico na Europa central, sobretudo nos seus aspectos literários.

4.

 

Há cerca de dois séculos e meio, na Prússia de meados de setecentos, um
grupo de judeus dispôs-se a modernizar a sua cultura, tomando como modelos
certos traços centro-europeus. Este processo nada tinha que ver com a continua-
ção de práticas anteriores nem sequer com pequenas concessões aos tempos em
mudança. Em boa verdade, era extremamente subversivo, e os seus proponentes
tinham consciência da subversão que lhe estava inerente.

Podemos assim concluir que o elemento de mudança, contido neste proces-
so, era tudo menos espontâneo: circunscrevera-se a situação coeva, estabelecera-se
uma meta para o trabalho e tinham-se concebido modos de atingir gradualmente
essa meta. Enquanto isto, eram feitos esforços no sentido de todo o processo pare-
cer muito menos revolucionário do que era em potência, de modo, por um lado, a
não exasperar a liderança tradicional e, por outro, a não alienar as massas. Estava
iminente um confronto pela hegemonia, e qualquer alternativa ao paradigma
existente teria de utilizar tácticas de dissimulação, se quisesse vencer alguma vez
o confronto.

Nos alvores deste período do Haskalah (nome por que o Iluminismo
judaico viria a ser conhecido em língua hebraica), a planificação estava nas mãos
de um número relativamente limitado e facilmente identificável de pessoas que se
aglomeravam numa mão-cheia de pequenos grupos. Nesta altura, há que
sublinhar o facto de jamais ter existido uma entidade que tivesse confiado, a estas
necsoas e grunos, a tarefa de planificar o que quer que fosse: eles tinham-se auto-
designado agentes de mundança e agiam como tal.
E, embora os seus modi operandi


Gideon Toury 25

nunca tenham coincidido totalmente com os de órgãos nomeados ou eleitos, o
facto é que se reuniam em assembleias pontuais, onde eram tomadas decisões de
modo bem consciente. Por vezes, produziam mesmo documentos escritos
(manifestos inclusive) que nos permitem reconstruir reavaliações ou até revisões
globais do programa inicial. Os conflitos eram também uma realidade, incluindo
estes debates abertos com terceiros, representados não apenas pela liderança
tradicional da comunidade judaica mas por grupos rivais com metas ligeiramente
diferentes, ou que, pelo menos, advogavam métodos alternativos para atingi-las.
É evidente que estes conflitos devem constituir parte importante de toda a histó-
ria, mas, por agora, concentrar-nos-emos naqueles grupos que a historiografia
privilegiou.

As decisões tomadas pelas autodesignadas instituições do Haskalah esten-
deram-se a diversos níveis. Algumas diziam respeito ao tipo de paradigma cultural
mais adequado para atingir a meta da modernização ao "estilo centro-europeu" -
tanto ao nível dos constituintes individuais como do da estrutura global, i.e., do
da planificação do corpus, se lhe quisermos chamar assim, planificação essa que
transcendia em muito o código linguístico. Outras referiam-se aos modos por que
este paradigma - e sobretudo as novas opções que apresentava - seria propagado
e disseminado, idealmente por toda a comunidade, o que foi algo que jamais
conseguiram.

Uma das decisões importantes dizia respeito à(s) língua(s) a ser(em) utili-
zada(s) nas áreas escritas da nova cultura. O rumo da acção era, neste campo, tudo
menos óbvio e, qualquer que fosse a decisão tomada, seria difícil torná-la apela-
tiva, dada a natureza multilingue e multiterritorial da existência judaica na Europa
da Diáspora, onde, acrescente-se, mudanças pontuais já tinham ocorrido. Quanto
ao hebraico, a única língua que supostamente os judeus teriam em comum, ela a)
não era tão comum como se fazia crer; e b) fora reservada para propósitos ritua-
lísticos, i.e., precisamente para aqueles aspectos culturais de que os maskilim (nome
por que eram conhecidos os proponentes do Haskalah) estavam a tentar libertar-se.
Seja como for, a decisão inicial - que não tardaria a ser revista - era bas-
tante vaga. Para complicar a questão ainda mais, fora expressa em termos apenas
parcialmente positivos. Assim, recomendava-se o uso do hebraico ou do alemão,
por vezes mesmo do hebraico e do alemão, a serem utilizados não só pelas mesmas
pessoas em circunstâncias diferentes, mas também paralelamente, numa única
publicação, numa mesma página, por vezes afirmando-se até como versões para-
lelas de um mesmo texto, muitas vezes envolvendo processos de autotradução de
uma língua para a outra (ou, por vezes, alternadamente nas duas direcções). Por
contraste, a utilização do iídiche foi interditada - a lingua judaica que poderia ter


26 Histórias Literári.as Comparadas

sido a opção mais fácil, considerando a área em que surgiu o Haskalah, não fora o
estar contaminada pela associação de longa data com um comportamento cultural
visto agora como negativo.

Outras decisões reportavam-se aos tipos de texto que deveriam ser fomen-
tados-ou suprimidos, centralizados-ou marginalizados. Apesar da adopção, en-
quanto modelos, de práticas europeias, e sobretudo alemãs, também aqui as deci-
sões não foram automáticas. Elas eram já, a um tempo, extensões de decisões ante-
riormente tomadas no âmbito da cultura-a-ser-planificada, tal como esta se estava
a desenvolver. Por exemplo, a decisão de começar com publicaçöes periódicas -
para mais, de pequena extensão - tornou compulsória, na prática, a utilização
quase exclusiva de textos que fossem inerentemente (i.e., não acidentalmente)
breves. Esta é uma de entre várias razöes por que, durante as primeiras décadas da
literatura do Haskalah, encontramos uma preferência tão marcada por fábulas e
por que, por outro lado, a poesia épica era relativamente rara e o drama só teve
aparição tardia. Um outro motivo explica-se pelos já mencionados mecanismos de
dissimulação: não era difícil fingir que não havia nada de novo e, logo, de perigoso,
aqui, porquanto os antigos paradigmas da cultura judaica incluíam também - mes-
mo em hebraico -fábulas. Na verdade, essa tradição remonta aos textos bíblicos.

Uma vez surgida a questão da tipologia textual, não se podia escapar a uma
questão concomitante, nomeadamente a de saber de onde viriam os textos indivi-
duais atinentes aos tipos a ser fomentados, pois um modelo não tem existência
real a não ser que esteja implementado em actos de comportamento socialmente
relevante e corporizado nos seus resultados. Esta questão era, é evidente, de im-
portância crucial para a cultura pretendida na língua hebraica, em que muitos dos
tipos de texto seleccionados não tinham tido concretizações prévias - uma lacuna
sentida que reforça a nossa asserção de que a espontaneidade ocupou um lugar
ínfimo em todo este movimento. Seja como for, os proponentes do Haskalah
hebraico, incluindo a maioria dos autodesignados planificadores, entendiam ser
seu privilégio e dever participar pessoalmente na criação da cultura através de
uma produção textual própria, recusando-se a deixar a implementação das suas
decisões genéricas à sorte ou a terceiros. Nenhum deles, contudo, fazia ideia de
como compor tais textos em hebraico, o que significou que também este aspecto
teve de ser sujeito a um planificação própria.

A decisão de resolver muitos dos problemas a este nível através do recurso
à tradução não deveria surpreender-nos: aqui estava não só uma possibilidade ele-
gante de pôr tentativamente a perícia e os instrumentos ao serviço da fixação de
modelos textuais que ainda não existiam na nova cultura em emergência, como a
tradução possibilitava um uso racional do tempo e outros recursos (pois é normal-


Gideon Toury 27

mente mais fácil, mais rápido e mais barato traduzir do que compor um texto
original). E, por fim, oferecia a perspectiva de capitalizar sobre o estatuto que os
textos (ou até as tradições que lhe estão subjacentes) tinham noutras culturas,
sobretudo se esse estatuto envolvia prestígio.

5.

 

Eis-nos, pois, chegados por fim à necessidade de examinar mais de perto a
própria actividade tradutiva em termos de planificação. Isto porque havia que
tomar decisões relativamente à preferência por certas culturas e línguas-fonte, à
escolha de textos a serem submetidos à tradução e às próprias estratégias a serem
aplicadas a textos estranhos, com o intuito de conseguir gerar os textos hebraicos
pretendidos, em termos gerais (sob a forma de uma concepção abrangente de
"tradução") bem como em termos dos tipos de texto particulares e dos textos
individuais atinentes àqueles.

É evidente que, à medida que descemos a escada das generalidades, a docu-
mentação é cada vez mais escassa. Assim, é muito máis fácil, e mais linear, explicar
a decisão de traduzir fábulas, ou mesmo fábulas alemãs, do que a opção por tradu-
zir as fábulas de Christian Fürchtegott Gellert em detrimento de outros escritores
alemães, já para não falar da escolha de textos particulares deste autor (vide Toury,
1993). Mais complexo ainda é tecer consideraçöes sobre o modo como qualquer
destas fábulas foi, de facto, tratada translacionalmente. Tanto mais que, no período
em estudo, eram muito poucos os tradutores que se dedicavam a comentar o pró-
prio trabalho, se exceptuarmos introduções gerais a livros traduzidos, material
que foi recentemente objecto de estudo de um mestrando sob minha orientação
(Cohen, 1998). As reacções críticas são quase inexistentes.

Caso se deseje, apesar de tudo, chegar ao fundo destas decisões, a única solu-
ção exequível consiste em estudar os resultados das mesmas, os próprios textos,
enquanto "textos que se apresentam como traduções", i.e., seguir o pressuposto
de que esses textos são efectivamente traduções. O raciocínio subjacente a esta
posição, que não está, de modo algum, isenta de problemas, assenta no princípio
de que os padrões recorrentes ao nível da superfície - particularmente a constitui-
ção linguístico-textual dos textos e/ou as relações derivadas de pares constituídos
por aspectos linguístico-textuais atinentes a textos que se apresentam como tradu-
ções e textos que se apresentam como textos-fonte, respectivamente- reflectiriam
regularidades muito mais profundas que podem ser atribuídas a comportamentos
regulados por normas (vide, a este propósito, Toury, 1999).

É óbvio que não há necessidade absoluta de que um texto traduzido seja
sempre apresentado e/ou consumido como uma tradução.
Tanto as instituições


28 Histórias Literárias Comparadas

como os indivíduos que tomam a planificação a seu cargo podem, ocasional-
mente, preferir gerar textos na língua-alvo por intermédio da tradução e depois
apresentá-los como não-traduzidos ou, noutras ocasiões, vice-versa. Seguindo a
mesma lógica, podem - como já aludimos - decidir apresentar, como traduções,
textos que não têm contrapartida noutra cultura e língua. Isto equivale a dizer
que, dentro de uma consciência cultural, as fronteiras entre traduções e originais
podem ser pouco nítidas, ainda que as actividades estejam bem diferenciadas.
Nos alvores do período do Haskalah parece ter sido precisamente este o caso.

Parece-nos pacífico que não há qualquer necessidade de fazer coincidir o
modo como a tradução foi executada no passado com a maneira como esta seria
levada a cabo hoje, sem que tal posição implique que os tradutores de ontem
fossem evolutivamente inferiores ou que não tivessem conseguido aperceber-se da
"verdadeira natureza" do acto de traduzir (o que, evidentemente, é um mito). O
facto é que a própria tradução não só é mutável (por princípio) como, na verdade,
sofre contantes alterações (na prática). Por consequência, nem sempre é fácil
identificar como tal traduções antigas, em particular se a sua identidade como
traduçöes foi ocultada, por exemplo, enquanto parte do processo de apagamento
de fronteiras entre traduções e não-traduções que acabámos de referir. No caso
concreto do Haskalah, é muitas vezes problemático responder à questão de saber
por que razões, de entre diversos textos emergindo de um mesmíssimo método,
alguns eram posteriormente apresentados e/ou vistos como traduções e outros
não. Não parece haver dúvida de que há muitas decisöes envolvidas neste
processo, decisões tomadas num esforço para atingir certas metas, mas a natureza
exacta delas ainda está por estudar.

Retomando a história, utilizaremos, como exemplo paradigmático, o pri-
meiro periódico do (pré-)Iluminismo hebraico, Kohelet Mussar (literalmente,
"Pregador de Moral"), e o lugar ocupado pela tradução no seio dele.
Dos dois números de Kohelet Mussar que chegaram à luz do dia, um bom
oitavo era dedicado ao desenvolvimento gradual do argumento ousado de que,
enquanto "a sabedoria" era efectivamente intraduzível para hebraico, esta língua
não teria rival quando se tratava de tradução literária. Ao insistir sem tréguas na
capacidade da (re)nova(da) língua de fazer precisamente o que implicava tantas
dificuldades, os planificadores conseguiram criar um clima favorável e vital para
qualquer projecto de planificação. Aperceberam-se de que, antes de mais, era
necessário aumentar o estatuto do hebraico enquanto veículo para traduções antes
de a codificação e disseminação poderem começar.

Esta solução, que poderia ser justificadamente apelidada de ideológica, foi
suplementada por outra, uma estratégia congruente e com consequências de


Gideon Toury 29

longo alcance: o posicionamento da aceitabilidade linguística como um constran-
gimento importante da tradução, implicando aquela a exclusão quase total da cha-
mada "adequação translatória". Este processo contribuiu enormemente para miti-
gar a problemática da tradução para hebraico, é claro que não em termos de modo
algum "objectivos", mas segundo a sua própria visão da cultura. A fasquia foi
simplesmente colocada mais abaixo, se se quiser.

Os planificadores decidiram ainda - não sem objecções, é óbvio - que a
principal medida para a aceitabilidade seria a Bíblia hebraica, que deixara de servir
como modelo para o comportamento verbal há séculos. Ressuscitaram, assim,
uma opção obsoleta com base, entre outras coisas, na centralidade que o Livro
gozava em áreas dominantes da cultura alemã (Herder!) que os envolvia, intro-
duziram-na no centro do novo paradigma cultural e deram-lhe novas funções,
tudo isto através de uma intervenção deliberada que implicava uma ruptura séria
com as práticas dominantes.

Como resultado deste conjunto de decisões, a tradução hebraica nos alvo-
res do Haskalah - que veio a ser, de facto, basicameñte literária - era um amálgama
de actividades primárias nos planos genérico, temático e composicional, em que
não só se permitia como se procurava que as inovações penetrassem no coração do
sistema, e actividades secundárias no plano linguístico que era, por isso, extrema-
mente resistente à interferência estrangeira. Assim, fossem quais fossem os casos
de interferência linguística que existissem - e cumpre dizer que há sempre interfe-
rência quando se fala de tradução -, eles eram basicamente involuntários, em
contradição marcada com a interferência a outros níveis. Muitas vezes estes casos
podiam ser arrumados de acordo com explicações que defendiam a sua existência
enquanto formulações hebraicas por direito próprio, uma outra utilização do
mecanismo de dissimulação mencionado anteriormente. Os próprios directores
de Kohelet Mussar deixaram-nos algumas palavras a este propósito num ensaio
sobre a tradução, que precedeu todos os esforços tradutórios. Todavia, as provas
mais convincentes estão contidas numa amostra de tradução executada de acordo
com as teses ensaísticas, para que todos pudessem comprová-las; tanto num
aspecto como noutro, se assim se quisesse: constituição linguística - confronto
com a Bíblia; conformação a modelos estrangeiros - confronto com um texto
noutra língua, que poderia ser tomado como a sua fonte.

Só que o texto estranho que deveria ter sido convocado não era, de modo
nenhum, um original: aquilo com que o leitor foi realmente confrontado era uma
tradução hebraica de uma versão alemã de um texto inglês, a saber, The Complaint,
or Night Thoughts on Life, Death and Immortality de Edward Young. É claro que isto
não derivou de um acaso, mas, mais uma vez, foi resultado de uma decisão cons-


30 Histórias Literárias Comparadas

ciente, uma decisão que estava em perfeito acordo com todo o projecto de planifi-
cação que temos estado a esboçar. Nem sequer se tratava de o tradutor não saber
inglês ou de o original ser inacessível na Prússia do tempo. A questão girou sim-
plesmente em torno da centralidade que, naqueles precisos anos, uma tradução
em concreto do texto de Young, executada por Johann Arnold Ebert, ocupava na
cultura alemã, que era na verdade o espaço em que os maskilim procuravam ansio-
samente modelos e textos. Acresce que, na medida em que o leitor era sempre
convidado a comparar o texto hebraico com a sua "fonte", só um texto em alemão
poderia ter servido tal propósito e mesmo esse só atingiria uma minoria negligen-
ciável dos judeus coevos. Porém, esta minoria incluía muitos dos planificadores e
dos mentores políticos que eram, de facto, os primeiros a necessitar de serem
persuadidos acerca das potencialidades do hebraico virtualmente bíblico no que
dizia respeito à tradução literária moderna e, por intermédio dela, a uma parte
substancial do sonho de uma cultura nova. É certo que o facto de a tradução ser
mediada nunca foi objecto de explicitação, mas, dadas as normas do período,
também ninguém se importaria muito com isso. (Para uma análise mais porme-
norizada sobre as decisöes translacionais, vide Toury,1998.)

 

6.

 

Implicará o que ficou dito neste lugar um argumento em prol da integração
da tradução nos actos de planificaçâo cultural7 De modo algum. Da mesma
maneira que afirmar que a tradução se caracteriza frequentemente por instâncias
de interferência não é argumento a favor da incorporação, em futuras traduções,
de tantos casos de interferência quanto possível.

Seguindo a mesma lógica, esta comunicação também não visa constituir
argumento em favor de uma planificação mais consciente da tradução no futuro,
nem em geral nem em qualquer cultura em particular. Os comportamentos no
mundo real podem, evidentemente, tomar considerações teóricas como um dos
seus pontos de partida. Podem também procurar aprender com os estudos descri-
tivos. Os estudos teóricos e descritivos não são, contudo, levados a cabo com o
objectivo de serem aplicados e não deveriam ser entendidos como tentativa de
determinar, de qualquer forma, a aplicação.

A presente comunicação deverá ser entendida como puro contributo de in-
vestigador. O que os planificadores decidirem fazer ou não com este texto é com
eles. Como convém a todas as actividades de planificação, sua será também a res-
ponsabilidade da passagem da teoria à prática, tal como o (in)êxito de uma tal
transição.


Gideon Toury 31

Observação

* A versão inglesa desta comunicação será publicada nas Actas da Confe-
rência Internacional "Translations: (Re)shaping of Literature and Culture",
Universidade de Bogaziçi, Istambul,1997 [Toury, no prelo a)].
Está ainda no prelo
uma versão alargada das posições teóricas aqui expostas [Toury, no prelo b)]

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[vide também: Current Issues in Language & Society, 5: 1&2]
http://spinoza.tau.ac.il/~toury/works/gt-tr&no.htm

---- [no prelo a)], "Translation as a Means of Planning and the Planning of
Translation: A Theoretical Framework and an Exemplary Case", in: Proceedings of
the International Conference "Translations: (Re)shaping of Literature and Culture"
.
http://spinoza.tau.ac.il/~toury/works/plan-tr.htm

---- [no prelo b)], "Culture Planning and Translation", in: Proceedings of the Vigo
Conference "ánovadores de nós - anosadores de vós"
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http://spinoza.tau.ac.il/~toury/works/gt_plan.htm.

 

Versão portuguesa de Alexandra Lopes e Maria Lin Moniz